27/07/2008

A PASSAGEM DE LAMPIÃO EM TABULEIRO DO NORTE


"A AMIZADE SUPLANTA O TEMPO

OS DIAS PASSAM E OS AMIGOS FICAM"


IN MEMÓRIA
DE GUMERCINDO CLÁUDIO MAIA.


Gumercindo Cláudio Maia
Que escreveu seu Tabuleiro,
Sua gente e sua história
Num estudo verdadeiro,
Despertou-me a atenção
Quando áquela Região
Visitou um cangaceiro.


Naquela manhã de Junho
Entraram no povoado,
De Tabuleiro de Areia
Cangaceiros comandados
Pelo facínora conhecido
E por todos tão temido
Por seu jeito endiabrado.

Quem conhece o perfil
De Virgulino Ferreira,
Sua vida, sua história
Sabe que é verdadeira,
Pois movido por vingança
Fez do crime a esperança
Da justiça derradeira.

Gumercindo em seu livro
Relatou a ilustre visita,
Do grande Rei do cangaço
Naquela terra bonita.
Francisquinho da espera
Ao deparar com a fera
Disse então sem fazer fita:

Pode descer, Capitão!
Minha casa sa é,
Para toda cabroeira
Tem leite, beijú e café,
Fumo de rolo e feijão,
Carne de bode e pirão,
Água, sombra e muita fé.

O bando era tão grande
Que dividiram em três,
Foi Antônio Alves Maia
Que recebeu por sua vez,
No armazém que possuía
Um dos grupos que queria
Beber sem virar freguês.

A venda de Néco Pacheco
O outro grupo recebeu,
Compraram perfume barato,
Sabão, querosene e breu,
Corda de junco e chinela,
Lamparina, pano e veia,
E imagem da mãe de Deus.

Na casa de Franscisquinho
Todo mundo estava contente,
Um dos cabras deu a ele
Bons cigarros de presente,
Outro cabra pensativo
Foi dizendo: - meu amigo,
Me escute, de repente.

Se alguém for pra Mossoró
Deve fazer romaria,
Na cova de Menino de Ouro
Que nos deixou certo dia,
Por intermédio da bala
Que calou sua fala
E findou sua valentia.

Menino de Ouro era
O mais valente do bando,
Pois somente respeitava
Lampião em seu comando.
Quatorze, era sua idade
Mas tinha a ferocidade
De um demônio atirando.

Então naquela harmonia
Cangaceiro e cidadão,
Compartilhava histórias
Na mais perfeita união.
Tomavam muita cachaça
Soluçavam e achavam graça
Naquele belo sertão.

Porém tinha um morador
Chamado de Zé Vidal,
Que tinha em sua propriedade
Um belo e forte animal,
E assim para não perder
Mandou seu filho esconder
No meio do matagal.

Ao chegar no matagal
O jovem se deparou,
Com o Capitão Virgulino
Que logo lhe perguntou:
- pra onde tu vai, meu velho
com essa cara de misério?
E ele não amarelou:

- vim esconder meu cavalo
para o senhor não tomar.
Lampião disse: não tema.
Seu cavalo eu vou levar,
Eu gostei muito da cor
Depois mande um portador
Que eu devolvo o "animá".

Realmente Lampião
Devolveu o animal,
Embora muito cansado
Pra tristeza de Zé Vidal.
Mas cumpriu o prometido
Mesmo sendo um bandido
Tinha palavra e moral.

Ao contrário da polícia
conhecida por volante,
Caçadores de cangaceiros
Eram brutais e ignorantes,
Na lei da perversidade
Ao chegarem numa cidade
Saqueavam num instante.

Não respeitavam ninguém
Criança, padre e senhora,
Com o aval do governo
Do Ceará e de fora,
Pra difamar LAMPIÃO
Praticavam no sertão
A violência que devora.

Pois enquanto Virgulino
Se divertia em Tabuleiro,
Os macacos do Governo
No encalce do cangaceiro,
Semeavam dor e medo
Roubando-lhe então sossego
Deixando o sangue no terreiro.

E Lampião desconfiado
Da paz naquele lugar,
Chamou a cobra "Moreno"
Dizendo: vou me mandar!
Chama os outros, e vambora
Os macacos não demora
Logo, logo vão chegar.

E pela estrada do governo
Atual PADRE ACELINO,
Desapareceu o bando
Do Capitão Virgulino.
Se mandou pra Iracema
Cidadezinha pequena
Do seu sertão nordestino.

No Ano de Vinte e Sete
No dia treze de agosto,
Um grupo de cangaceiros
Com outro comando no posto,
Em Tabuleiro de Areia
Fez vogar a LEI DA PEIA
Da violência e desgosto.

Pedro Chaves Pitombeira
Eu escrevi estes versos
Do livro de Gumercindo
Recordando Virgulino
O cangaceiro perverso.
Como Gumercino foi
Historiador de primeira

As coisas do TABULEIRO
Vivenciou e é verdadeira
Eu apenas homenageio
Sua obra à minha maneira.
Porém quero terminar
Interrogando a você:
Teria sido o cangaço

O sangue que fez sofrer,
Meu TABULEIRO DE AREIA
Bom lugar pra se viver?
Eu tenho outra opinião,
Insensato eu não sou.
Responda-me amigo PEDRO
Agora quem saqueou.


(Manaus, Amazonas - 27 de dezembro de 2006)

Antonio Padua Borges de Queiróz



2 comentários:

José Arimatéa Ferreira Maia disse...

Queria parabenizá-lo pelo belo trabalho poético, baseado em fatos contados por Gumercindo Cláudio Maia. Onde relata em um de seus sobre a passagem de um grupo de cançaceiro por Tabuleiro do Norte-CE. Sou um dos filhos e estou iniciando um Blog sobre sua vida e seus trabalhos.
"gumercindoclaudiomaia.blogspot.com

Jesus Moreira de Andrade disse...

Que interessante. Parabéns pelo trabalho poético e histórico